Na noite de 30 de abril de 1981, o Brasil presenciou um dos episódios mais sombrios e vergonhosos de sua história recente: o atentado do Riocentro. Planejado por setores radicais da ditadura militar, o ataque visava culpar opositores de esquerda e criar um clima de medo que justificasse o endurecimento do regime justamente no momento em que o país clamava por abertura política e liberdade.
Cerca de 20 mil pessoas se reuniam no centro de convenções Riocentro, no Rio de Janeiro, para celebrar o Dia do Trabalhador em um grande show de música popular. O que deveria ser um encontro de arte, cultura e resistência se transformou em palco de um crime covarde: bombas foram plantadas no local por militares que deveriam, em tese, zelar pela segurança da nação.
O plano falhou graças à incompetência de seus próprios executores. Uma das bombas explodiu antes da hora dentro de um carro Puma, matando o sargento Guilherme Pereira do Rosário e ferindo gravemente o capitão Wilson Machado. Outras cargas foram colocadas próximas à rede elétrica e até sob o palco, mas não detonaram. Caso o plano tivesse funcionado, a tragédia poderia ter vitimado centenas de trabalhadores, jovens e famílias que apenas celebravam em paz.
A mentira oficial
Naquele momento, o governo tentou encobrir a autoria do atentado, difundindo a falsa versão de que os militares eram vítimas de terroristas. A farsa, entretanto, não resistiu ao tempo: investigações, documentos e a Comissão Nacional da Verdade comprovaram que o atentado foi orquestrado dentro da própria estrutura do regime.
O episódio escancarou a lógica da ditadura: a manutenção do poder a qualquer custo, mesmo que fosse necessário assassinar inocentes para criar uma narrativa de caos. Essa covardia corroeu a já frágil credibilidade do governo do general João Figueiredo e mostrou ao país que não havia mais espaço para o autoritarismo.
Lições para a democracia
O atentado do Riocentro se tornou um marco no desgaste da ditadura militar. Sua revelação acelerou o processo de redemocratização, reforçando o clamor popular por eleições livres, liberdade de expressão e respeito aos direitos humanos.
Quarenta anos depois, recordar aquele episódio não é apenas revisitar o passado: é reafirmar que a democracia nasceu também da resistência contra as mentiras e violências de um regime que tentou se perpetuar pelo terror.
Hoje, quando vozes saudosistas tentam reescrever a história ou minimizar os crimes da ditadura, cabe lembrar o Riocentro como símbolo daquilo que não podemos aceitar novamente: o Estado agindo contra seu próprio povo.
A democracia é imperfeita, exige vigilância e constante aprimoramento. Mas ela é, sem dúvida, a única forma de governo capaz de garantir que nunca mais bombas sejam usadas para calar a voz do Brasil.

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