Era pouco depois do meio-dia quando o silêncio do bairro Águas Claras foi rompido por gritos vindos de uma casa na Rua das Azaleias. Dentro do imóvel, mãe e filho estavam à mesa para o almoço. Minutos depois, a cena se transformaria em um dos episódios mais violentos já registrados na cidade.
De acordo com o boletim de ocorrência nº 2025.362055 e os documentos anexados ao processo, Marion Martins Vincensi, de 40 anos, teria atacado sua mãe, Dione Martins Vincensi, de 71, utilizando uma ferramenta metálica do tipo pé de cabra. A mulher foi encontrada inconsciente, com ferimentos graves na cabeça e muito sangue espalhado pela cozinha.
A chegada da polícia
Às 12h20 de 10 de novembro de 2025, a Polícia Militar recebeu o chamado de emergência.
Quando a guarnição comandada pelo sargento Carlos Antônio da Silva chegou ao endereço, o Samu já prestava os primeiros socorros. Marion ainda estava na casa, com o corpo e as roupas manchadas de sangue.
Segundo o registro policial, ele apresentava fala desconexa e raciocínio confuso. Tentava explicar o que havia acontecido, mas as versões mudavam. Em um momento, dizia que havia sido “um homem de moto” quem invadira a residência e atacara sua mãe. Em outro, afirmava que tentara ajudá-la após ouvir barulhos vindos da cozinha.
No entanto, os policiais notaram ausência de sinais de arrombamento e nenhum indício da presença de terceiros. No chão, ao lado de uma cadeira tombada, encontraram o pé de cabra coberto de sangue, que foi apreendido e encaminhado para perícia.
O que dizem os documentos
O auto de verificação de local de crime, assinado pelo delegado Heberth Hugo Montenegro de Souza, confirma a versão dos militares: a vítima foi atacada com golpes repetidos na cabeça enquanto estava dentro de casa.
A perícia preliminar descreve “afundamento craniano e intenso sangramento”.
Em depoimento prestado à Polícia Civil, Marion reafirmou a história do suposto “motoqueiro” que teria invadido o imóvel e usado uma faca. Disse que tentou perseguir o agressor, mas não conseguiu alcançá-lo.
A narrativa, porém, não encontrou respaldo nos vestígios. A única arma localizada foi o pé de cabra, e não havia faca, marcas de invasão ou testemunhas que confirmassem a presença de outro homem.
O delegado considerou o conjunto de provas suficiente para lavrar o auto de prisão em flagrante por feminicídio, com base no artigo 121-A, §2º, inciso II, do Código Penal — que prevê aumento de pena quando a vítima é idosa.
O que se sabe sobre o acusado
De acordo com os autos, Marion é portador de esquizofrenia e fazia uso de medicação controlada, mas estava sem tratamento há vários dias. Essa informação levou a defesa a solicitar avaliação psiquiátrica, o que motivou o incidente de insanidade mental determinado pela Justiça.
O delegado destacou no relatório que o acusado aparentava “discurso desorganizado e desconexo, com dificuldade de linearidade nas ideias”.
Mesmo assim, naquele momento, o policial considerou-o “imputável e sujeito às normas do Código Penal”, determinando o prosseguimento da investigação.
A decisão da Justiça
O caso chegou rapidamente à Vara Única de Sapezal, sob a responsabilidade do juiz Luiz Guilherme Carvalho Guimarães.
Em sua decisão, o magistrado homologou a prisão em flagrante e a converteu em prisão preventiva, ressaltando a “gravidade concreta do fato e a necessidade de garantir a ordem pública”.
O juiz também autorizou perícia psiquiátrica, que deve avaliar se Marion compreendia ou não o caráter ilícito do que fez.
Enquanto isso, o acusado permanece recolhido no Centro de Detenção Provisória de Campo Novo dos Parecis, aguardando os laudos técnicos.
Um caso ainda sem respostas
As autoridades ainda trabalham para esclarecer o que realmente aconteceu naquela manhã.
Os autos revelam um crime brutal, mas também um possível quadro de doença mental não tratado, o que abre espaço para discussões jurídicas complexas sobre responsabilidade penal e saúde pública.
O processo segue em fase de instrução, e nenhuma sentença foi proferida.
O que se sabe até agora é que, na casa da Rua das Azaleias, o almoço de segunda-feira jamais terminou — e a cidade de Sapezal ainda tenta compreender o que se passou por trás daquela porta fechada.

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